sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Não odeio BBB e #LuizaqueestanoCanada

Escrevo este post pensando nos querid@s que apoiaram o que disse o jornalista Carlos Nascimento sobre o BBB e o já gasto meme #LuizaqueestanoCanada. Os argumentos usados são SEMPRE os mesmos (ou seja, falta criatividade e verdadeira análise crítica. Tudo não passa de mera reprodução): futilidade, limitação intelectual, pobreza cultural e blá blá blá.

Quero acreditar que os críticos (não falo da crítica fundamentada, bem construída e argumentada, claro) de plantão do BBB lêem mais livros e se aventuram em diferentes gêneros literários sempre que começa uma nova edição do programa. Devem ser leitores vorazes de pensadores como Nietzsche e Chomsky. Quero acreditar também que esses "críticos" (as aspas são indispensáveis) são cidadãos empenhados na construção de um país mais erudito: promovem e participam de rodas literárias, debates sobre ética e política, desenvolvem atividades intelectuais com comunidades carentes, acompanham de perto os políticos em quem votaram... Não basta não gostar de BBB, inteligente é odiar e deixar isso bem claro. Pergunto: pra quem?!

Quanto a coitada da #LuizaqueestanoCanada, começo a pensar que seus críticos não possuem senso de humor. E eu entendo. Afinal, estão tão empenhados em solucionar os problemas do nosso amado país e em serem excelentes cidadãos que o humor é supérfluo. Ou devem preferir o humor inteligente das peças de Oscar Wilde e William Shakespeare. A propósito, se puderem, me emprestem algumas obras desses autores. Ainda não tenho todas.

Não sou fã do BBB e já estou cansado da Luiza - que não está mais no Canadá. Mas considero chatos os "grandes intelectuais". Ficarei feliz em ouvir e debater novos argumentos sobre esses assuntos.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Desejo por resultados atropela a ética

O Portal Exame publicou na semana passada estudo realizado nos Estados Unidos que revela o que eu e muitos outros trabalhadores já conhecemos na prática: a exigência por desempenho cada vez melhor leva executivos a agir ilegalmente. A pesquisa mostrou que à medida que as empresas ganhavam mais reconhecimento, mais irregularidades eram cometidas. Gostaria de saber o que há de novo na pesquisa...

Numa esfera corporativa menor, experimentei essa cruel realidade de perto. Em 2006, quando fiz minha vida mudar totalmente o rumo, precisei buscar outros meios de sobrevivência e fui trabalhar como assessor de cliente em uma multinacional. O choque veio na primeira semana. Na sede insaciável de alcançar números cada vez maiores e superar todas as metas estabelecidas, éramos “motivados” a fazer uso de técnicas nada politicamente corretas: vendas casadas e informações enganosas de produtos absolutamente desnecessários.

O resultado não poderia ser outro: equipes desmotivadas, com graves distorções éticas, clientes insatisfeitos e muitas ações judiciais. No meu ingênuo princípio ético, fruto de uma formação religiosa ultra conservadora, tentei inutilmente dialogar com os meus superiores diretos algumas vezes. O máximo que consegui foi ficar na geladeira por 3 longos e difíceis anos e a fama de questionador.

Hoje, aliviado, olho para trás e sou grato por não mais trabalhar em um ambiente desses. Contudo, numa sociedade obsecada por números, resultados imediatos e vantagens, o comportamento ético e o respeito ao outro são considerados tolos e se apresentam como obstáculos a satisfação de objetivos individuais. Fica o questionamento: até onde meu desejo por resultados deve me levar?

domingo, 26 de setembro de 2010

Um mal que inferioriza e desumaniza...

Você já parou pra pensar o que o presidente do Irã, um jornalista e apresentador de reality show, um ganhador de reality show, uma publicitária e uma estudante de direito têm em comum? Vejamos:

“Nós não temos homossexuais no Irã.” (Mahmoud Ahmadinejad) “Homem hétero não pega AIDS.” (Marcelo Dourado) “Dourado (Marcelo Dourado) não é homofóbico não.” (Pedro Bial) “Não gosto desse cantor! Ele é muito viado!” (Publicitária) “Precisa ser tão 'garota' pra ser gay?” (Estudante de Direito)

Todas essas declarações, ainda que em medidas diferentes, são inegavelmente homofóbicas! É provável que você considere minha afirmação radical, exagerada e até infeliz. Eu entendo. Mas antes de tirar conclusões, é preciso entender que a homofobia faz uso de diferentes discursos e assume diferentes faces para se manifestar. Com isso, não poucas vezes parece invisível e até inexistente.

Buscar o entendimento do que é homofobia é o primeiro passo para que ela possa ser desmascarada. Gosto do que pensa o escritor ítalo-argentino Daniel Borrillo em seu livro Homofobia: História e crítica de um preconceito: “a homofobia é uma manifestação arbitrária que consiste em designar o outro como contrário, inferior ou anormal; por sua diferença irredutível, inferior ou anormal... desumaniza o outro e torna inexoravelmente diferente”.

A homofobia pode ter diferentes níveis, mas ainda assim é homofobia. Nem todo homofóbico, por exemplo, têm a ignorância e a coragem suficientes para, em cadeia nacional, declarar que a AIDS é uma doença de gays. Negar a existência dessa condição sexual (“Nós não temos homossexuais no Irã”) é tão nocivo quanto julgar o outro inferior por apresentar um padrão comportamental diferente daquele que a sociedade impõe (“Precisa ser tão 'garota' pra ser viado?”). A homofobia está presente em muitos espaços aparentemente tolerantes, mas agindo de forma silenciosa e violenta vai desumanizando o outro. Não poucas vezes, o próprio indivíduo é sua própria vítima: gays e lésbicas negando e hostilizando sua condição sexual.

Historicamente praticada pelos regimes ditatoriais e pelas grandes religiões monoteístas / patriarcais, a homofobia radical continua viva e atuante. É só lembrar das constantes violências que gays, lésbicas e travestis enfrentam constantemente em ambientes públicos e, até mesmo, privados. Nem os muitos anos de luta contra a pandemia da AIDS, por exemplo, foram suficientes para banir de vez o mito da AIDS como peste gay. Sem falar nos países onde a homofobia é punida com a morte.

A homofobia “polite” (educada), também chamada de política do armário, é outra medida da homofobia que faz com que pensemos que os homossexuais gozam de alguma tolerância sexual, dando uma falsa sensação de segurança. No entanto, quando nego aos gays o direito a filiação ou ao matrimônio, por exemplo, estou dizendo: “Você não é tão humano quanto nós heterossexuais por isso não tem o mesmos direitos”. Dificilmente percebemos esse tipo de manifestação homofóbica, pois costuma ser silenciosa e vestida de “amizade” dos gays. Você consegue pensar em algum?

A homofobia experimentada e reproduzida pelo próprio gay é o resultado de toda uma construção histórico-social que renega ao que está nessa condição, o direito de enxergar e aceitar a si mesmo. Ansioso para ser aceito pela coletividade, silencia o próprio desejo. E se mutila! Como consequencia, os gays passam a ser autores de comportamentos homofóbicos muitas vezes tão cruéis quanto os não gays. A rejeição das travestis, dos homens efeminados e das mulheres masculinas são uma pequena amostra.

Alguns acreditam que sociedade começa a demonstrar os primeiros avanços para uma convivência mais tolerante e justa. No entanto, penso que este assunto está longe de ser esgotado e mais ainda de ser superado. A atual ideologia homofóbica, como qualquer ideologia preconceituosa, precisa ser questionada de forma direta, sincera e corajosa.

domingo, 19 de setembro de 2010

Campus do Pici / Unifor: uma reflexão sobre o nosso individualismo

Uma cena corriqueira, mas difícil de aceitar...

Você corre para a parada de ônibus que fica a quatro quarteirões de casa debaixo de um sol que parece fritar sua pele e a careca que há muito ensaia aparecer. Na parada, um tumulto de pessoas visivelmente sonolentas e entediadas. Descendo a ponte, lá vem o Campus do Pici/Unifor lotado de estudantes universitários e alguns trabalhadores. Todos se preparam para a batalha: conseguir um espaço dentro do ônibus para chegar ao destino. Dê graças a Deus se conseguir ir pelo menos pendurado. Nessas horas, não posso deixar de pensar na porta do céu segundo os cristãos: estreita e são poucos os que passam por ela.

Na primeira viagem na linha Pici/Unifor, eu imaginei que as coisas seriam mais tranquilas com relação a tantas outras linhas nas quais eu já me aventurei. Afinal, na sua maioria, os passageiros são estudantes universitários e tendem a ser mais educados. Hoje, com vergonha, admito: puro preconceito da minha parte. Estudantes, via de regra, têm se mostrado mal educados e egoístas. Perdoem-me as exceções. Cabe aqui uma reflexão...

É curioso como tratam suas bolsas como extensão de si mesmos. Assim, como qualquer ser humano, as bolsas têm direito a espaço exclusivo, mesmo que isso implique em prejudicar a passagem e o espaço reservado para “outros” passageiros – que nesse caso são apenas obstáculos. Isso seria resultado de uma geração individualista e materialista, onde minhas coisas e eu somos mais importantes que o outro? Que percepção temos de quem é o outro? Quem é esse outro com o qual, ao que parece, eu não me identifico?

Se não bastasse, muitos [estudantes] sofrem de um surto de cegueira seletiva temporária. Como bem descreveu meu colega @chicofernando: “A maioria deles põe o fone no ouvido e entram no seu mundinho sem perceber os colegas carregando pilhas de livros”. Essa cegueira direcionada à coletividade e a solidariedade é crônica e embaça a visão da nossa humanidade. Em diferentes medidas, é a mesma cegueira que mantém no analfabetismo cerca de 16 milhões de brasileiros, que ignora os quase 200 homossexuais assassinados em 2009 só no estado da Bahia e que permite,todos os anos, a exploração sexual de milhares de crianças.

Enquanto nosso individualismo não for admitido como um elemento inerente e absolutamente nocivo da nossa condição humana, nenhuma mudança poderá ser efetivada. Precisamos tomar consciência de que estamos ligados a uma imensa teia social (ou rede, para usar um termo muito revisitado ultimamente) e que por isso, meus gestos e e decisões tendem a afetar outras pessoas. Que tal repensarmos nossa postura e valores enquanto passageiros, estudantes, profissionais, cidadãos e sobretudo enquanto seres humanos?

terça-feira, 29 de junho de 2010

Carta ao senhor Waldemar Menezes em resposta ao seu artigo publicado no jornal “O Povo” no dia 26/06/2010

Era pra ser um domingo como todos os outros: ler o jornal pela manhã e passar o resto do dia me preparando pra semana que começa. Ou seja, um corriqueiro e entediante domingo. Aliás, a vida, assim como os domingos, costuma ser corriqueira e entediante. Até que as pérolas do senhor Menezes começaram a saltar daquela fatídica página do jornal. Confesso que precisei ler umas duas vezes. Leituras rápidas e superficiais facilitam interpretações e julgamentos injustos. A cada declaração lida um tornado de pensamentos devastava minha inexistente tranqüilidade interior.

Senhor Menezes, tentando ser o menos injusto possível, quero fazer algumas considerações bem pontuais a respeito de algumas declarações suas. Declarações infelizes, claro! É interessante notar que o senhor, logo nas primeiras linhas, fala de “muita desinformação sobre a questão”. Na verdade, o senhor me parece um dos grandes desinformados a respeito de Legislação, Direitos Humanos, Ética, Liberdade de Pensamento e Expressão, Configurações Familiares e tantas outras coisas com as quais não quero desperdiçar palavras.

O senhor disse também em seu "premiado" artigo que a possível aprovação do projeto de lei 122/2006 “terá efeitos danosos”. Esqueceu, contudo, de citar que danos seriam esses. Sugiro que o senhor fundamente sua afirmação para então publicá-la. Também acredita que manga com leite faz mal a saúde e que passar em baixo de escadas trás azar?

Uma de suas melhores declarações foi “práticas públicas homossexuais”! O senhor estaria sugerindo que os gays deveriam manter-se no anonimato e nos guetos como foi (e ainda é) por tanto tempo? O que o chama de “excessos do movimento gay [que] já é tão grande”? Poderia me explicar o porquê de o senhor poder andar de mãos dadas com sua esposa, beijá-la em público e até gritar aos quatro cantos que a ama e os gays não? Em seu artigo, não falou em liberdade de expressão?

Em algum momento já se questionou onde, quando e por que surgiu esse modelo tradicional de família ao qual, acredito eu, o senhor se refere? Os contextos mudam e, com eles, homens e mulheres também devem mudar. A que valores se refere? Valores heterogemônicos de família? Talvez precise ler mais sobre novas configurações familiares. Questionar velhos conceitos é difícil, mas extremamente saudável! Vale a pena tentar!

O senhor acha realmente aceitável a demissão de um profissional ou a não admissão por causa de sua orientação sexual? Acha que é fácil provar um crime de preconceito sexual? Tem conhecimento do número de gays que são discriminados, agredidos e mortos neste país? Já teve sua humanidade violada? Já teve seus direitos básicos negados?

Uma colocação sua em especial me deixou apreensivo. Disse o seguinte: “O cerceamento a quem discorda dos excessos do movimento gay já é tão grande, que se tornou um risco fazer um comentário como este, sem sofrer retaliação desses setores”. Explico o motivo da minha apreensão: espero sinceramente que ao usar a palavra ‘risco’ o senhor não esteja, sutilmente, taxando de bandidos “esse segmento da sociedade". Ademais, idéias existem e são expostas a fim de serem questionadas. É assim que se constrói o saber. Conhecimento só existe quando é compartilhado!

Senhor Menezes, não espero que levante a bandeira pela causa gay. Só conhece a dor do preconceito quem já foi vítima dele. Espero, contudo, que o senhor possa considerar as opiniões contrárias até agora manifestadas. Os gays, “esse segmento da sociedade”, lutam apenas pelo direito de serem eles mesmos. Não se quer privilégios, apenas ter orgulho de quem se é. Nada mais!