quarta-feira, 11 de março de 2009

Dulce

Eu a conheci na faculdade num encontro de alunos. No começo estava calada, com um ar distante. Talvez estive tímida. Afinal, éramos só alguns desconhecidos. Depois, sutilmente, Dulce começou a existir entre nós. Apresentamos-nos e trocamos mais algumas palavras. Seu sorriso não saia dos lábios enquanto falava. Seu olhar tinha um quê de sonhadora. A pouca altura e simpatia lhe davam um aspecto doce. Doce, não frágil! A sua beleza era diferente. Não vinha de um corpo esculpido com horas de malhação pesada. Nem de tratamentos intermináveis em salão de beleza. Também não andava como um cabide de grifes famosas. Quando voltávamos pra casa – nos descobrimos vizinhos – Dulce não parava de falar. Falava do curso, dos colegas de faculdade, da dificuldade em se adaptar etc. Falou também do que esperava de um homem. Queria um amor, queria um amante! Queria um companheiro! Não queria um provedor. Também não queria um galã de cinema. Só queria alguém pra amar e ser amada! Alguém com quem pudesse viver alguns de seus sonhos de adolescente. Finalmente chegamos em frente ao prédio onde morava, cerca de 30 andares, mais parecia um castelo. O castelo de Dulce. Minutos depois eu descobriria que não era bem assim.


Filha do interior do Ceará, Dulce foi criada, pra ser “moça de boa família”. Sua mãe a ensinou lavar, passar, cozinhar bem, e ainda fazer bordado! Fiquei estupefato! Ainda existem moças de 19 anos que aprenderam a bordar pra arrumar um “bom partido”. Sai de casa poucas vezes e quase sempre acompanhada de uma velha empregada da família ou da mãe. Comecei a entender sua história. Não morava exatamente um castelo, mas numa masmorra sempre a espera de um príncipe, mas não os dos contos de fadas. Mãe e filha esperavam coisas tão diferentes de um relacionamento. Uma espera amor a outra o via como uma possível consequência do casamento, acreditando que estabilidade financeira e conforto são mais importantes. Voltei pra casa intrigado e pensativo. O que as pessoas realmente esperam dos relacionamentos? O que é importante que o outro tenha para que eu decida amá-lo? Até que ponto realidades sociais, econômicas e culturais determinam minhas escolhas amorosas?