sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Os "estacionamentos" e seus "guardadores..."

Sair de casa em períodos de grandes eventos e festas definitivamente não é uma boa idéia. O transporte público além de superlotado é quente, desconfortável e inseguro. Quando optamos por sair de carro mais dificuldades: não só o trânsito é um caos como encontrar um lugar pra estacionar é sempre uma tarefa que exige paciência, determinação e muito bom humor. Se não bastasse tudo isso, ainda temos que suportar o abuso e a intimidação dos chamados flanelinhas. Eles são uma mal que se espalhou pelo país já faz algum tempo, contudo, em períodos como o do carnaval eles se multiplicam e se tornam ainda mais perigosos. Parecem estar a cada ano mais organizados, uma verdadeira máfia. Em determinados locais eles usam um colete que os identificam e distribuem uma espécie de passaporte, fabricado artesanalmente, com valores que podem variar de R$ 3,00 a R$ 5,00 exigindo pagamento adiantado!

Dias desses quando questionei um deles, pois não agüentava mais aquela situação – eu e minha mania de questionar as coisas! – o tom da resposta foi bastante ameaçador. Segundo ele, estávamos pagando-o para “olhar o carro”, mas se não quiséssemos ele não poderia se responsabilizar por nada que acontecesse com o veículo. E quando eu estava prestes a dizer-lhe algumas coisas os amigos “deixa disso” não deixaram!

Sai sentindo-me lesado! Lesado pelo flanelinha que estava nos extorquindo. Quem era a maior ameaça naquela hora se não ele mesmo?! Senti-me lesado e desprotegido pelo Estado que cobra uma carga tributaria pra lá de pesada a fim de nos garantir proteção e inibir esse tipo de prática e não faz. Decepcionado com a população que não se posiciona diante de abusos como esses. Inclusive meus próprios amigos! Mas o que fazer? Se recusar a pagar? E depois que vai ressarcir o prejuízo causado pela não “prestação de serviço” do flanelinha?

O que me restou foi tentar aproveitar o carnaval assumindo o prejuízo diário com os “estacionamentos” e seus “guardadores”. Quem sabe um dia nossos impostos e nossa policia começam a funcionar e com isso possamos sair de casa mais tranquilos...

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A difícil tarefa de ser...

Desde muito cedo nos acostumamos com alguém nos dizendo o que devemos fazer, querer e SER! Quando criança eram comuns comentários como: “Ele é tão fofinho...”, “O irmão é tão magrinho, como pode né?” ou pior, “Tiago é o gordinho?” Na adolescência, os comentários foram se transformando (pra pior, claro): “Tiago é tão bonitinho, pena que é gordinho”, “Tá vendo meu amor, os magrinhos ficam bem com qualquer roupa. Devia pensar em emagrecer”, “Como você quer que ela goste de você se você não emagrece?”. Naquele momento todos diziam o quê ou quem eu deveria ser, aquilo que eles consideravam o melhor pra mim (ou seria pra eles?) ignorando quem eu realmente era (sou). Com exceção de uma vizinha, que era considerada puta e devassa pelas demais, ninguém nunca me disse o contrário. Ela foi a primeira (e a única na minha infância) a me fazer enxergar quem eu realmente era. Penso quantos já passaram ou tem passado por experiências parecidas seja pelo peso, pela cor, orientação sexual etc.


A família é, sem dúvida, o primeiro referencial de valores e comportamentos e a responsável pela educação doméstica básica, que vai desde valores éticos e morais a certas convenções sociais necessárias (comer de boca fechada e não limpar o nariz em público são apenas algumas delas). Mas essa mesma família muitas vezes nos cerceia a liberdade de escolha em favor de uma moral ou das aparências. Acreditando que somos de fato sua extensão, no convívio familiar muitas vezes a individualidade é assunto ignorado. Com requintes de crueldade, criam-se mecanismos “legitimados” de punição e controle. Incentiva-se a hipocrisia e a vida dúbia. ”Você pode ser gay, desde que não deixe isso explicito para os vizinhos e não traga pra casa seu parceiro ou parceira”. Ele é gay, mas é boa pessoa, dizem alguns”. “Tão bonita, pena que é gorda”. “Coitada, ela ainda está solteira!”, “Ele até que é um preto bonitinho.” E pra citar só alguns exemplos.


Repensar a relação com o próprio corpo e conseqüentemente o conceito de beleza é fundamental para que se possa descobrir quem se é realmente . Porque tenho que ser magro e/ou malhado? Porque reduzir meu corpo a uma máquina de músculos? Por que cabelo bom é o liso e o ruim é o crespo? Por que sempre o sex symbol do momento nunca é negro ou negra?

Em algum momento de nossa vida, quando tentarmos romper com tudo isso – os que tiverem coragem, claro – perceberemos o quanto é difícil assumir controle da própria vida e o quanto é difícil fazer as próprias escolhas e assumir as conseqüências, sejam elas positivas ou negativas. Por outro lado, só assim poderemos desfrutar o que é liberdade. A sociedade, de um modo geral, não está preparada para aqueles que decidiram assumir a difícil tarefa de ser eles mesmos! Não podemos esperar ate que ela esteja. Ser eu mesmo implica no enfrentamento de conflitos internos e externos. Exige disposição e coragem para entrar em contato com as próprias feridas e traumas. Ser eu mesmo é não se desviar do espelho, mas olhar-se e como resultado admiração e amor! Ser eu mesmo é, sobretudo ser livre!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Felicidade...

“Às vezes, quantas!... sinto um quer que seja, uma ligeira emoção, como um sorriso que vem despontando em minha alma. É talvez a felicidade, digo baixinho; e fico muda e estática para não perturbar dentro em mim esse débil raio que vai nascendo. Mas de repente some-se tudo, como se um abismo se abrisse: procuro minha alma nesse vácuo imenso, e não a sinto.”

Foi lendo este trecho de um dos romances de José de Alencar que me saltou à mente a parábola: que é a felicidade é como uma ilha paradisíaca admirada e desejada de longe por um marujo exausto de tantas viagens e quanto mais a deseja mais a vê afastar-se até que só reste a esperança de uma nova oportunidade.

À que se destinam todos os esforços e toda existência humana se não à busca da felicidade? A felicidade é o fim principal – e talvez único – de toda atividade humana. Por ela homens e mulheres trabalham arduamente dia e noite, pois esperam que o resultado de tamanho esforço lhes traga felicidade. É por ela também, que casais decidem partilhar suas vidas. Que religião não promete aos seus fiéis a felicidade como resultado de sua fidelidade? Todavia, irônica e tragicamente, o resultado tem sido contrário: nunca se trabalhou tanto e nunca se foi tão infeliz, nunca se viu tanta separação e as relações nunca foram tão efêmeras e superficiais. Muitos centros espíritas estão lotados bem como os templos católicos, protestantes, budistas e outros. Somos uma geração decepcionada com a religiosidade (com o cristianismo em especial?). Sabendo disso o mercado religioso descobriu seu principal produto: um discurso que promete a felicidade apesar de qualquer adversidade interna e externa, chegando muitas vezes ao que Nietzsche chamaria de alienante.

Em todo sonho e em todo desejo, em toda sociedade e em toda cultura, em toda crença e em toda ideologia existe algo de comum: o desejo de ser feliz!