terça-feira, 29 de junho de 2010

Carta ao senhor Waldemar Menezes em resposta ao seu artigo publicado no jornal “O Povo” no dia 26/06/2010

Era pra ser um domingo como todos os outros: ler o jornal pela manhã e passar o resto do dia me preparando pra semana que começa. Ou seja, um corriqueiro e entediante domingo. Aliás, a vida, assim como os domingos, costuma ser corriqueira e entediante. Até que as pérolas do senhor Menezes começaram a saltar daquela fatídica página do jornal. Confesso que precisei ler umas duas vezes. Leituras rápidas e superficiais facilitam interpretações e julgamentos injustos. A cada declaração lida um tornado de pensamentos devastava minha inexistente tranqüilidade interior.

Senhor Menezes, tentando ser o menos injusto possível, quero fazer algumas considerações bem pontuais a respeito de algumas declarações suas. Declarações infelizes, claro! É interessante notar que o senhor, logo nas primeiras linhas, fala de “muita desinformação sobre a questão”. Na verdade, o senhor me parece um dos grandes desinformados a respeito de Legislação, Direitos Humanos, Ética, Liberdade de Pensamento e Expressão, Configurações Familiares e tantas outras coisas com as quais não quero desperdiçar palavras.

O senhor disse também em seu "premiado" artigo que a possível aprovação do projeto de lei 122/2006 “terá efeitos danosos”. Esqueceu, contudo, de citar que danos seriam esses. Sugiro que o senhor fundamente sua afirmação para então publicá-la. Também acredita que manga com leite faz mal a saúde e que passar em baixo de escadas trás azar?

Uma de suas melhores declarações foi “práticas públicas homossexuais”! O senhor estaria sugerindo que os gays deveriam manter-se no anonimato e nos guetos como foi (e ainda é) por tanto tempo? O que o chama de “excessos do movimento gay [que] já é tão grande”? Poderia me explicar o porquê de o senhor poder andar de mãos dadas com sua esposa, beijá-la em público e até gritar aos quatro cantos que a ama e os gays não? Em seu artigo, não falou em liberdade de expressão?

Em algum momento já se questionou onde, quando e por que surgiu esse modelo tradicional de família ao qual, acredito eu, o senhor se refere? Os contextos mudam e, com eles, homens e mulheres também devem mudar. A que valores se refere? Valores heterogemônicos de família? Talvez precise ler mais sobre novas configurações familiares. Questionar velhos conceitos é difícil, mas extremamente saudável! Vale a pena tentar!

O senhor acha realmente aceitável a demissão de um profissional ou a não admissão por causa de sua orientação sexual? Acha que é fácil provar um crime de preconceito sexual? Tem conhecimento do número de gays que são discriminados, agredidos e mortos neste país? Já teve sua humanidade violada? Já teve seus direitos básicos negados?

Uma colocação sua em especial me deixou apreensivo. Disse o seguinte: “O cerceamento a quem discorda dos excessos do movimento gay já é tão grande, que se tornou um risco fazer um comentário como este, sem sofrer retaliação desses setores”. Explico o motivo da minha apreensão: espero sinceramente que ao usar a palavra ‘risco’ o senhor não esteja, sutilmente, taxando de bandidos “esse segmento da sociedade". Ademais, idéias existem e são expostas a fim de serem questionadas. É assim que se constrói o saber. Conhecimento só existe quando é compartilhado!

Senhor Menezes, não espero que levante a bandeira pela causa gay. Só conhece a dor do preconceito quem já foi vítima dele. Espero, contudo, que o senhor possa considerar as opiniões contrárias até agora manifestadas. Os gays, “esse segmento da sociedade”, lutam apenas pelo direito de serem eles mesmos. Não se quer privilégios, apenas ter orgulho de quem se é. Nada mais!