Por volta das 20h lá ia Paulete, ‘toda se quebrando’ em direção ao Passeio Público. O local na verdade se chama Praça dos Mártires. Projetada em 1820 por Silva Paulet, tenente coronel do Real Corpo de Bombeiros, autor do primeiro plano urbanístico para a então Província do Ceará. Ambígua, afamada por ser um dos principais pontos de prostituição da cidade e marco de importantes eventos históricos de Fortaleza. Em 1830 foi palco da execução de revolucionários da Confederação do Equador como Padre Mororó e Pessoa Anta. Daí seu nome. No no final do século XIX e início do XX a praça era frequentada pela elite da capital alencarina.
Quando chegava à praça, Paulete tratava logo de cumprimentar as prostitutas e outros travestis que trabalham no local. Nao eram necessariamente amigos, noentanto diante do perigo a que viviam expostos o corporativismo era indispensável. Em seguida, caminhava até o famoso baobá de 39 metros plantado por Senador Pompeu em 1910. O baobá africano é um dos atrativos naturais da praça junto com outras diversas árvores centenárias. Alí permanecia alguns minutos em silêncio, como se estivesse fazendo uma prece. Na verdade, sempre admirou a força e a resistência da árvore. Ser travesti não era nada fácil ainda mais quando se é negro. Essa árvora tem a sua essência negra como a minha, é uma guerreira, dizia. Como pode, se perguntava, sobreviver por 100 anos? Quantos mudanças vira acontecer? Quantos histórias acompanhou? A quantos casais apaixonados serviu de abrigo? A quantos trabalhadores exaustos refrescou com suas sombras? Quantas crianças brincaram ao seu redor? Desejava ser tão forte e resistente quanto o Baobá, pois seu trabalho era duro e precisava de muita força e sorte. Assim como o Baobá, ouviria muitas histórias de amor e desamor, seria para alguns não mais que uma diversão ou alento logo esquecido.
A Praça também foi palco das primeiras partidas de futebol do estado, disputadas por marinheiros de navios ancorados no porto da cidade, ingleses residentes em Fortaleza e cearenses da classe alta. Décadas depois, muita coisa nao mudou nesse sentido. Muitos dos clientes de Paulete e suas amigas eram homens da classe alta cearense, muitos turistas estrangeiros e até alguns jogaderes de futebol. Esses dois últimos eram os que pagavam melhor e não costumavam pechinchar.