quinta-feira, 18 de junho de 2009

Uma História da Praça

Quem vai ao Passeio Público durante o dia tem a idéia de estar em outro lugar; um mundo paralelo que não o centro da cidade. Do lado de fora o ritmo é frenético. Um calderão fervente com lojas de artesanatos de cipós, lojas de equipamentos, casarões como a Associação Comercial do Ceará e o Sobrado José Lourenço, pontos de venda de confecções, bares, motéis, prostitutas e vendedoras ambulantes nas calçadas. Bem próximo dali está o Mercado Central, o Teatro José de Alencar e a Praça dos Leões. Lá dentro, porém o clima é de tranquilidade e nostalgia até. O lugar esconde segredos e histórias do passado e do presente.

Todo começo de noite era a mesma coisa. Por volta das 19h, Paulete, como foi “batizada” pelas mais velhas, começava seu ritual de preparação para ir ao trabalho. Depois de um cuidadoso e demorado banho, era a vez dos cremes (adoraria usar os da Victoria’s Secret, mas na época o que ganhava ainda não permitia tais extravagâncias). Arrumar o cabelo e a maquiagem era parte do ritual que mais lhe dava trabalho. Gostava disso quando ainda não era uma obrigação.

Por volta das 20h lá ia Paulete, ‘toda se quebrando’ em direção ao Passeio Público. O local na verdade se chama Praça dos Mártires. Projetada em 1820 por Silva Paulet, tenente coronel do Real Corpo de Bombeiros, autor do primeiro plano urbanístico para a então Província do Ceará. Ambígua, afamada por ser um dos principais pontos de prostituição da cidade e marco de importantes eventos históricos de Fortaleza. Em 1830 foi palco da execução de revolucionários da Confederação do Equador como Padre Mororó e Pessoa Anta. Daí seu nome. No no final do século XIX e início do XX a praça era frequentada pela elite da capital alencarina.

Quando chegava à praça, Paulete tratava logo de cumprimentar as prostitutas e outros travestis que trabalham no local. Nao eram necessariamente amigos, noentanto diante do perigo a que viviam expostos o corporativismo era indispensável. Em seguida, caminhava até o famoso
baobá de 39 metros plantado por Senador Pompeu em 1910. O baobá africano é um dos atrativos naturais da praça junto com outras diversas árvores centenárias. Alí permanecia alguns minutos em silêncio, como se estivesse fazendo uma prece. Na verdade, sempre admirou a força e a resistência da árvore. Ser travesti não era nada fácil ainda mais quando se é negro. Essa árvora tem a sua essência negra como a minha, é uma guerreira, dizia. Como pode, se perguntava, sobreviver por 100 anos? Quantos mudanças vira acontecer? Quantos histórias acompanhou? A quantos casais apaixonados serviu de abrigo? A quantos trabalhadores exaustos refrescou com suas sombras? Quantas crianças brincaram ao seu redor? Desejava ser tão forte e resistente quanto o Baobá, pois seu trabalho era duro e precisava de muita força e sorte. Assim como o Baobá, ouviria muitas histórias de amor e desamor, seria para alguns não mais que uma diversão ou alento logo esquecido.

A Praça também foi palco das
primeiras partidas de futebol do estado, disputadas por marinheiros de navios ancorados no porto da cidade, ingleses residentes em Fortaleza e cearenses da classe alta. Décadas depois, muita coisa nao mudou nesse sentido. Muitos dos clientes de Paulete e suas amigas eram homens da classe alta cearense, muitos turistas estrangeiros e até alguns jogaderes de futebol. Esses dois últimos eram os que pagavam melhor e não costumavam pechinchar.
Hoje, quando vem ao Brasil não perde a chance de ir à Praça acompanhada de seu marido alemão, e tem consigo algumas certezas: a de que teve sorte e a de que aquele lugar faz parte de sua hsitória assim como ela faz parte da história daquele lugar. E tem orgulho disso.

domingo, 7 de junho de 2009

Nossas histórias...

Experimentara recentemente a liberdade de deixar a casa dos pais para ir morar só. Estava orgulhosa de si, afinal tinha apenas 22 anos e já desfrutava da sua independência. Nada de regras castradoras, satisfação pra dar, horários pré-estabelecidos e namorados pra pegar no pé. Queria viver. E viver do seu jeito. Naqueles dias sua ansiedade era visível! E não era pra menos, pois sair de Fortaleza para passar o carnaval nas famosas e cultuadas ladeiras de Olinda com os amigos não era algo comum na sua vida. Ela era só euforia. A palavra de ordem era: divertir-se! Antes de embarcarem alguém em tom de brincadeira alertou: “Cuidado, as ladeiras de Olinda reservam muitas surpresas! Não vão se apaixonar por lá!” Polly riu...

Os festejos começaram já no aeroporto onde foram recebidos por uma animada banda de frevo. As ruas da cidade estavam coloridas e tomadas de pessoas de todos os lugares. Vestidas as fantasias, trataram logo de se misturar aquela multidão. A cada ladeira que descia e banda que tocava seu corpo fervia de prazer, euforia e sensualidade.


Era o terceiro dia de carnaval. O improvável aconteceu. Daniel poderia ter sido mais um dentre tantos foliões. Meses mais tarde, em alguns momentos Polly desejaria que tivesse sido assim, mas não foi. O desejo parecia calar a distância e tantos outros obstáculos que os separava, que os separa!

Essa história ainda esta sendo construída. Não é um conto de fadas escrito pelos irmãos Grimm ou mesmo um roteiro para uma deliciosa comédia romântica. É uma história real, com personagens e dramas reais. Uma história que fala da dificuldade e do esforço para ser feliz mesmo quando se ama.