quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Desejo por resultados atropela a ética

O Portal Exame publicou na semana passada estudo realizado nos Estados Unidos que revela o que eu e muitos outros trabalhadores já conhecemos na prática: a exigência por desempenho cada vez melhor leva executivos a agir ilegalmente. A pesquisa mostrou que à medida que as empresas ganhavam mais reconhecimento, mais irregularidades eram cometidas. Gostaria de saber o que há de novo na pesquisa...

Numa esfera corporativa menor, experimentei essa cruel realidade de perto. Em 2006, quando fiz minha vida mudar totalmente o rumo, precisei buscar outros meios de sobrevivência e fui trabalhar como assessor de cliente em uma multinacional. O choque veio na primeira semana. Na sede insaciável de alcançar números cada vez maiores e superar todas as metas estabelecidas, éramos “motivados” a fazer uso de técnicas nada politicamente corretas: vendas casadas e informações enganosas de produtos absolutamente desnecessários.

O resultado não poderia ser outro: equipes desmotivadas, com graves distorções éticas, clientes insatisfeitos e muitas ações judiciais. No meu ingênuo princípio ético, fruto de uma formação religiosa ultra conservadora, tentei inutilmente dialogar com os meus superiores diretos algumas vezes. O máximo que consegui foi ficar na geladeira por 3 longos e difíceis anos e a fama de questionador.

Hoje, aliviado, olho para trás e sou grato por não mais trabalhar em um ambiente desses. Contudo, numa sociedade obsecada por números, resultados imediatos e vantagens, o comportamento ético e o respeito ao outro são considerados tolos e se apresentam como obstáculos a satisfação de objetivos individuais. Fica o questionamento: até onde meu desejo por resultados deve me levar?