domingo, 19 de julho de 2009

“Devia ter complicado menos, trabalhado menos, ter visto o sol se pôr...”


Era só mais um entediante final de tarde de domingo. Como não tínhamos muito que fazer, optamos por um daqueles programinhas clichês, tomar sorvete e dar uma volta na praia. Calçadão cheio. Meu Deus, pensei, eu não sou o único entediado e sem criatividade na cidade. Isso fez com que eu me sentisse pouco melhor. Alguém, não lembro exatamente quem, sugeriu que parássemos um pouco já que em alguns minutos poderíamos ver o pôr do sol. Era próximo a uma colônia de pescadores.


Ficamos hipnotizados. Não tentarei descrever o pôr do sol. Acho desnecessário. Talvez porque para mim esse é um fenômeno não só abstrato, mas também metafísico. Tantas coisas me vieram à cabeça naquela tarde. Reflexões que vão se desenrolando e se entrelaçando gradativamente.


Observo tons diferentes produzidos por um mesmo fenômeno! Amarelos, laranjas e vermelhos se apresentam como um balé de cores tão bem ensaiado, tendo como palco o mar e como arquibancada a praia. Como platéia, diferentes elementos da natureza reunidos para assistir a um mesmo espetáculo. O astro rei vai então delicadamente tocando e mergulhando na infinitude do mar.


Não consigo deixar de me impressionar com sua grandeza que me convida a admirá-lo. É como se dissesse: “Vem e me olha! Grande sou eu!” Sinto minhas preocupações e ansiedades se encolhendo dentro de mim como se estivessem envergonhadas. Essa grandeza me emudece, me leva a perceber o silêncio no seu espetáculo. Ele vai se recolhendo calado ao mesmo tempo em que a multidão de vozes se aquieta dentro de mim e posso então ouvir meu próprio silêncio.


Silêncio que há muito tempo não encontrava e que tão fácil costumo perder. Começa a brotar em mim um calor, uma centelha de celebração. Quero celebrar a vida! E como a vida depende dele para prosseguir, pois é dele que extrai suas forças!
Sentindo a brisa como que me sussurrando essas coisas, levantei-me cantarolando Epitáfio dos Titãs. Torcendo para que num futuro próximo eu não faça dela a minha Lamentação*.

* Lamentação: canto forte e prolongado, por vezes de caráter religioso e ritualístico, por meio do qual se deplora um infortúnio público ou pessoal. No catolicismo, conjunto de leituras durante os três últimos dias da Semana Santa, que pertencem ao ofício de Trevas e cujo texto é constituído dos versículos das Lamentações de Jeremias