quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Mudou você, ou mudei eu?

Outro dia estava na sala dos professores de uma das escolas em que trabalho como educador. Para mim essas salas são sempre entediantes. Professores costumam ser entediantes. Não lhe olham, não lhe cumprimentam e o pior, nunca lhe oferecem o lanche. Deve estar na minha cara que eu não vou aceitar. Para eles devo ser apenas um intruso de mais um projeto social chato. Enquanto esperava não sei o que, vi um texto em cima da mesa. “Deve ser mais uma daquelas correntes bestas ou um texto medíocre de auto-ajuda”, pensei. Mas me chamou a atenção o fato do texto estar colado na capa do livro de ponto dos professores. Falta de educação ou não, comecei a lê-lo. À medida que ia lendo as palavras daquela professora, engolia meus preconceituosos pensamentos...
Eu já tentei de tudo com você: bons modos, maus modos, gritos, chantagens,
exigi, insisti, implorei, instei... Você continua não respondendo a minha
didática elaborada... Por você me tornei insegura (o). Analisei os conteúdos,
contestei a validade de alguns, aprofundei, condensei... Achei parcos os meus
recursos. Pedi ajuda. Comparei meus instrumentos de aprendizado. Discuti com
colegas. Fui ao supervisor, ao orientador...
Lembrei-me do Segura Essa Onda. De como cheguei em agosto antes do inicio das oficinas. Ansioso, não sabia exatamente o que me esperava. Sabia que teria surpresas, mas não tinha idéia da força dessas surpresas. As leituras de Freire e tantos outros textos, as discussões, as trocas de experiências, os planejamentos, coisas absolutamente necessárias e enriquecedoras. No entanto, nada disso pode se comparar ao que tenho, ou melhor, temos vivido e aprendido lá dentro, entre os muros da escola. Perdi a conta das vezes em que voltamos pra casa arrasados, nos sentindo as piores e mais incompetentes criaturas. Não conseguíamos nos comunicar com os alunos que estavam tão próximos de nós e distantes ao mesmo tempo. Éramos desafiados, provocados. “Muda o plano de aula, esse não esta dando certo”, dizíamos quase a beira de lágrimas. Outras vezes, no entanto, éramos surpreendidos e presenteados por um avanço que poderia parecer insignificante ou por um simples gesto de confiança que nos devolvia o fôlego e a esperança! Citando Freire em Pedagogia da Esperança: “A prática educativa implica ainda processos, técnicas, fins, expectativas, desejos, frustrações, a tensão permanente entre prática e teoria, entre liberdade e autoridade (grifo meu), cuja exacerbação, não importa de qual delas, não pode ser aceita numa perspectiva democrática, avessa tanto ao autoritarismo quanto a licenciosidade.”
É por isso e por muito mais que pergunto: “Aí, então, mudou você, ou mudei eu?”

Um comentário:

  1. oi,

    estudei com vc na nassau. achei vc no blog da turma e me encantei com o "enlogi" os preconceitos.
    entendo este problema com alunos que viajam para marte no meio da sua aula. passei por isso com os meus pimpolhos do projeto + educação. mudei a tatica de aula, nas brincadeiras passava os conteúdos de direito e cidadania e eles pararam de se desculhambarem no meio da aula, pelo menos da minha.
    é isso.
    paz e bem

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