domingo, 19 de setembro de 2010

Campus do Pici / Unifor: uma reflexão sobre o nosso individualismo

Uma cena corriqueira, mas difícil de aceitar...

Você corre para a parada de ônibus que fica a quatro quarteirões de casa debaixo de um sol que parece fritar sua pele e a careca que há muito ensaia aparecer. Na parada, um tumulto de pessoas visivelmente sonolentas e entediadas. Descendo a ponte, lá vem o Campus do Pici/Unifor lotado de estudantes universitários e alguns trabalhadores. Todos se preparam para a batalha: conseguir um espaço dentro do ônibus para chegar ao destino. Dê graças a Deus se conseguir ir pelo menos pendurado. Nessas horas, não posso deixar de pensar na porta do céu segundo os cristãos: estreita e são poucos os que passam por ela.

Na primeira viagem na linha Pici/Unifor, eu imaginei que as coisas seriam mais tranquilas com relação a tantas outras linhas nas quais eu já me aventurei. Afinal, na sua maioria, os passageiros são estudantes universitários e tendem a ser mais educados. Hoje, com vergonha, admito: puro preconceito da minha parte. Estudantes, via de regra, têm se mostrado mal educados e egoístas. Perdoem-me as exceções. Cabe aqui uma reflexão...

É curioso como tratam suas bolsas como extensão de si mesmos. Assim, como qualquer ser humano, as bolsas têm direito a espaço exclusivo, mesmo que isso implique em prejudicar a passagem e o espaço reservado para “outros” passageiros – que nesse caso são apenas obstáculos. Isso seria resultado de uma geração individualista e materialista, onde minhas coisas e eu somos mais importantes que o outro? Que percepção temos de quem é o outro? Quem é esse outro com o qual, ao que parece, eu não me identifico?

Se não bastasse, muitos [estudantes] sofrem de um surto de cegueira seletiva temporária. Como bem descreveu meu colega @chicofernando: “A maioria deles põe o fone no ouvido e entram no seu mundinho sem perceber os colegas carregando pilhas de livros”. Essa cegueira direcionada à coletividade e a solidariedade é crônica e embaça a visão da nossa humanidade. Em diferentes medidas, é a mesma cegueira que mantém no analfabetismo cerca de 16 milhões de brasileiros, que ignora os quase 200 homossexuais assassinados em 2009 só no estado da Bahia e que permite,todos os anos, a exploração sexual de milhares de crianças.

Enquanto nosso individualismo não for admitido como um elemento inerente e absolutamente nocivo da nossa condição humana, nenhuma mudança poderá ser efetivada. Precisamos tomar consciência de que estamos ligados a uma imensa teia social (ou rede, para usar um termo muito revisitado ultimamente) e que por isso, meus gestos e e decisões tendem a afetar outras pessoas. Que tal repensarmos nossa postura e valores enquanto passageiros, estudantes, profissionais, cidadãos e sobretudo enquanto seres humanos?

Um comentário:

  1. parece q estou vendo esta cena aqui,nos ônibus de Olinda.Parabens pelos vàrios assuntos a que se refere esse post:abraços...

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