terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A difícil tarefa de ser...

Desde muito cedo nos acostumamos com alguém nos dizendo o que devemos fazer, querer e SER! Quando criança eram comuns comentários como: “Ele é tão fofinho...”, “O irmão é tão magrinho, como pode né?” ou pior, “Tiago é o gordinho?” Na adolescência, os comentários foram se transformando (pra pior, claro): “Tiago é tão bonitinho, pena que é gordinho”, “Tá vendo meu amor, os magrinhos ficam bem com qualquer roupa. Devia pensar em emagrecer”, “Como você quer que ela goste de você se você não emagrece?”. Naquele momento todos diziam o quê ou quem eu deveria ser, aquilo que eles consideravam o melhor pra mim (ou seria pra eles?) ignorando quem eu realmente era (sou). Com exceção de uma vizinha, que era considerada puta e devassa pelas demais, ninguém nunca me disse o contrário. Ela foi a primeira (e a única na minha infância) a me fazer enxergar quem eu realmente era. Penso quantos já passaram ou tem passado por experiências parecidas seja pelo peso, pela cor, orientação sexual etc.


A família é, sem dúvida, o primeiro referencial de valores e comportamentos e a responsável pela educação doméstica básica, que vai desde valores éticos e morais a certas convenções sociais necessárias (comer de boca fechada e não limpar o nariz em público são apenas algumas delas). Mas essa mesma família muitas vezes nos cerceia a liberdade de escolha em favor de uma moral ou das aparências. Acreditando que somos de fato sua extensão, no convívio familiar muitas vezes a individualidade é assunto ignorado. Com requintes de crueldade, criam-se mecanismos “legitimados” de punição e controle. Incentiva-se a hipocrisia e a vida dúbia. ”Você pode ser gay, desde que não deixe isso explicito para os vizinhos e não traga pra casa seu parceiro ou parceira”. Ele é gay, mas é boa pessoa, dizem alguns”. “Tão bonita, pena que é gorda”. “Coitada, ela ainda está solteira!”, “Ele até que é um preto bonitinho.” E pra citar só alguns exemplos.


Repensar a relação com o próprio corpo e conseqüentemente o conceito de beleza é fundamental para que se possa descobrir quem se é realmente . Porque tenho que ser magro e/ou malhado? Porque reduzir meu corpo a uma máquina de músculos? Por que cabelo bom é o liso e o ruim é o crespo? Por que sempre o sex symbol do momento nunca é negro ou negra?

Em algum momento de nossa vida, quando tentarmos romper com tudo isso – os que tiverem coragem, claro – perceberemos o quanto é difícil assumir controle da própria vida e o quanto é difícil fazer as próprias escolhas e assumir as conseqüências, sejam elas positivas ou negativas. Por outro lado, só assim poderemos desfrutar o que é liberdade. A sociedade, de um modo geral, não está preparada para aqueles que decidiram assumir a difícil tarefa de ser eles mesmos! Não podemos esperar ate que ela esteja. Ser eu mesmo implica no enfrentamento de conflitos internos e externos. Exige disposição e coragem para entrar em contato com as próprias feridas e traumas. Ser eu mesmo é não se desviar do espelho, mas olhar-se e como resultado admiração e amor! Ser eu mesmo é, sobretudo ser livre!

7 comentários:

  1. nossa eu sempre fui gordinho
    eu ia lendo e ia me imaginando
    huauhauha
    boa sorte com o blog
    abraços

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  2. Esse é o tiago que eu conheço!!!!!!!
    Precisando de umas dicas para turbinar seu blog é só falar!
    http://wendelcandido.blogspot.com

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  3. A difícil tarefa de ser vem da necessidade que algumas pessoas tem de dar satisfação da própria vida aos que só se ocupam com a vida alheia... aff... odeio isso. rsrsrs... Admiro os que SÃO de verdade.

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  4. Tiago! parabens pela resenha. Romper barreiras ainda é tabu em nossa época. A mídia manipula, o mundo é branco, heterosexual- viril. Até os gays tem uma cartilha de como se comportar para serem aceitos em determinado grupo social. Te recomento a edição número 22 da revista FILOSOFIA CIÊNCIA E VIDA que trata na capa Foucault, Deleuze e o Homossexualismo ( pensadores discutem os esteriótipos criados e combatidos pelos próprios homossexuais) até mais!

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  5. Lembrou-me um trecho de um conto de Caio Fernando Abreu: "O que elas não sabiam de si era tão assustador que me sentia como se tivesse violado uma sepultura fechada havia vários séculos. A maldição cairia sobre mim: ninguém me perdoaria jamais se soubesse que eu ousara.Ninguém me perdoaria se soubesse que eu sei o que elas são, o que elas eram." Assumir as próprias verdades é a maior prova de coragem! Belo texto.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Essa foi a primeira de várias visitas que concerteza farei ao seu blog. O título me chamou a atenção, logo me interessei em ler.. me encantei com o texto,com a forma que vc expressa suas idéias e concordo plenamente com a sua visão em relação a essa sociedade tão preconceituosa em que vivemos. Admiro sua inteligência,(e isso não é puxação de saco de cunhada.. já sendo!rsrs) BJOS *-*

    * SinaraSales!

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